sábado, setembro 13, 2014

Transcendência

Transcendência.
Que excede os limites ordinários, sublime...
...
"Talvez tivesse sido inevitável, a colisão entre a Humanidade e a tecnologia".
A frase que mais me ecoa na mente, um dia depois de assistir ao novo filme do realizador Wally Pfister - Transcendence.
...
Será esta a palavra que prevalecerá? Inevitabilidade?
Será que, ao invés de confronto, poderemos assistir a uma sã co-existência no despontar da nova era?
Na minha opinião, tudo dependerá da relação direta entre a evolução tecnológica e a velocidade evolutiva do altruísmo Humano.
Não estranhamos que, ao Homo Sapiens, tivesse sucedido o Homo Sapiens Sapiens. Estranharemos então que não sejamos o fim da linha, e que ao Homo Sapiens Sapien suceda uma evolução híbrida biológica e sintética, cuja principal característica seja a consciência global e a conexão entre todos os seres da mesma espécie?
Duas questões se colocam agora, ambas diretamente relacionadas com a velocidade evolutiva do altruísmo humano que há pouco falei.
A primeira delas é da própria criação. Que mente, e sob que desígnios se criará o código-fonte que guiará toda a humanidade ao passo seguinte?
A segunda tem a ver com a inclusividade. Será a amostra global, ou segregar-se-ão elites parciais, que subjugarão... ou eliminarão, qual versão extinta dos Homo Neanderthalensis, os seres humanos excluídos deste processo?
Percebem agora a urgência da velocidade evolutiva do altruísmo humano superar a da evolução tecnológica?
Será fatal entregarmos a responsabilidade de tal salto evolutivo a corporações que executem algum tipo de seleção baseada em critérios imbecis que eventualmente o não possam parecer à luz do pensamento coletivamente histérico vigente na segunda metade do século XXI.
Quanto ao segredo desta transição quase religiosa da criação, ele pode residir na imperfeição natural humana.
Li-o há muitos anos e nunca me esqueci, a respeito do conceito de criação, que qualquer coisa que se consiga replicar, está viva. Não será necessariamente verdade, como descobriremos a breve prazo com as máquinas mais evoluídas. Mas, mais importante que permanecer vivo, será possuir consciência de si e do Universo, condição necessária para que deixe de ser tolerável desconectar a fonte de energia, qualquer que ela seja, que sustente este ser.
E para este problema, aparentemente insolúvel não obstante todos os esforços da comunidade pensante mundial que não se deixou castrar pela religião, a solução pode estar em Sebastopol, pelo prisma de Lev Tolstoi.
Somos todos bons, somos todos maus.
Percebi que reside nesta capacidade/defeito a impossibilidade atual de criar uma auto-consciência. O atual sistema binário de codificação e descodificação não permite que a metade exista. Tudo é preto ou branco, zero ou um, sem derivações. E esta lacuna não se coaduna com o aparente paradoxo de simultaneamente sermos bons e maus, pretos e simultaneamente brancos, mescla de cinzentos que derivam ao sabor do humor, do clima, das condicionantes sociais ou das vontades animais.
A beleza de encadear um conjunto de palavras e, derivando apenas a entoação, fazê-las ter significados totalmente díspares. A subliminaridade de fazer variar todo o significado vocabular... apenas com uma variação da expressão facial. O anjo negro que paira sobre todos nós e nos faz tremer, de quando em vez, arrepiados com a imperfeição humana intrínseca que nos envergonha por a ela não conseguirmos escapar.
Os cientistas vogam numa corrente de filosofia matemática, falhando na expressão artística da falsa aleatoriedade daquilo que em vão tentam recriar.
Criaremos novas entidades quando percebermos que os zeros e uns não são solução.
Evoluiremos quando, assumindo as nossas vulnerabilidades humanas, deixarmos que a Natureza Universal siga o seu curso e o seu plano global e cedamos lugar à evolução seguinte.
Transcender-nos-emos no dia em que finalmente compreendermos a arquitetura Universal e o seu propósito. Ainda que, para grande surpresa nossa, descubramos angustiados poder não nos estar destinado o papel principal.
E então... começar tudo de novo... tornando-nos Arquitetos.

1 comentário:

António Luís disse...

Registo, com agrado, o regresso à escrita!
Sempre bem, claro!
Abraço.