Estou convicto que a esmagadora maioria da população que integra o tão aclamado mundo civilizado entrou numa espiral toxicómana quase irreversível.
Não no sentido pesado do vocábulo, mas numa variante subliminarmente mais perigosa, apesar de aparentemente inofensiva.
E, por julgar de tal modo ameaçadora esta calamidade, considero hoje justificar-se a manifestação pública de uma opinião, que será sempre muito mais do que um aconselhamento (que esses, em ambiente não familiar, devemos reservá-los para quando tal nos é solicitado).
Assiste-se, neste século vigésimo primeiro da era cristã, a uma proliferação desenfreada de cursos, pós-graduações, mestrados, doutoramentos, pós-doutoramentos e outros graus académicos conexos destinados a estudar, aconselhar e fazer implementar uma série de medidas e ações que ilustrem a forma correta de alimentar a máquina infernal em que se tornou o corpo humano.
Infernal sim, porque inferniza no sentido literal do termo a sociedade moderna, com acumulação indesejável e inestética de gordura, na maior parte dos casos, ou com ausência total da mesma em alguns outros, doentios, mentalmente toldados pelas medidas ficticiamente carnais do corte e costura digital que povoa as revistas da feminilidade.
A inteligência da humanidade tem destas contradições que desvirtuam completamente o conceito intelectual em si mesmo, pondo em causa a repetição da palavra sapiens na catalogação de espécies que, "sabiamente", à natureza auto-impusemos.
Seria apelidado de palermita aquele que quisesse padronizar, para cada ser humano, a quantidade de ar a inalar em cada inspiração, escravizando a população a uma contagem de litros diários, apenas com o intuito de que o corpo se mantivesse são, onde a mente há muito tinha certamente deixado de o ser.
Mas é apelidado de sumidade aquele que ensina a contar calorias diárias, de modo a que o corpo se mantenha são e, simultaneamente, mantendo viva a ilusão de que a mente também assim se manterá.
Na verdade, a (in)sanidade não é maior do que aquele que ocupar o seu tempo a permanentemente contar e registar o número de batidas do seu coração, ao longo de toda a vida útil deste órgão..
A alimentação é um ato que quase deveria ser considerado reflexo, de tão irrelevantemente importante que é para a nossa sobrevivência. Irrelevante porque pobre da sociedade que ao invés da elevação espiritual se entretiver com imbecilidades deste tipo. Importante porque nos impede de prematuramente extinguir o projeto de consciência que almejamos desenvolver ao longo da nossa curta existência.
Há alguns anos defendi a saída humana da cadeia alimentar convencional, eliminando na totalidade este problema de alimentação da fornalha orgânica, através da ingestão (ou libertação contínua, no caso de sistemas previamente inseridos no corpo) de substitutos sintetizados que permitissem à humanidade ganhar tempo para o que é realmente importante no seu padrão evolutivo.
Estamos muitíssimo longe desta realidade, é certo, o que não nos pode impedir de perseguir o mesmo objetivo, com os meios atualmente ao nosso dispor.
O que nos impediu durante tantos séculos de evoluir foi, nada mais nada menos, o facto de quase toda a nossa capacidade de processamento intelectual se destinar à preservação da espécie através da busca contínua de alimentos. Ultrapassámos há muito este obstáculo, mas curiosamente criámos outro, de si derivado, que consome quase tanta capacidade de processamento, que mais não é que o combate às consequências nefastas da excessiva ingestão de alimentos face à necessidade diária deste conjunto de seres vivos que deixaram de conhecer predadores dos quais fugir!
O facto de comermos em excesso pode remontar aos primórdios civilizacionais, em que este racional era utilizado pela razão da incerteza quanto à origem, tempo e localização da refeição seguinte.
Esta é a razão romanceada.
A razão que choca e dói é que nos tornámos viciados em comida, como um qualquer toxicodependente que anseia sempre por mais um pouco da sua substância psicotrópica favorita. E, como eles, sofremos do síndroma de abstinência, não porque o corpo da energia necessite, mas porque o cérebro assim o ordena (culpemos as enzimas ou culpemos Freud, é pouco relevante).
A propriedade com que disserto acerca deste assunto não se associa a qualquer inscrição na ordem dos médicos, enfermeiros, nutricionistas ou dietistas. É, apenas e só, a experiência de vida de quem, aos quarenta, se mantém biometricamente igual aos dezoito, sem nunca se ter preocupado com uma só restrição ou dieta na sua vida.
E o segredo?
A palavra preocupação ou, neste caso, a falta dela!
Todos sabemos, intrínseca ou extrinsecamente, aquilo que nos faz bem e o que nos faz definitivamente mal.
A nossa Nação teve a felicidade (e a sabedoria) de construir um modelo de alimentação que faz inveja a todos os restantes povos do mundo. A famosa dieta mediterrânica mais não é que a tradição familiar centenária de comer sempre sopa, comer sempre salada e comer sempre fruta... com carne, peixe e outros derivados animais a compor o acolhedor quadro que nos fará sempre lembrar a casa dos nossos ancestrais.
Então porque não o aplicamos?
Porque nos tornámos preguiçosos.
Porque transportámos essa preguiça para a falência na educação dos nossos filhos. Porque é mais confortável ceder a uma birra, choro ou gritaria do que manter a firmeza de quem está convicto de que este será o melhor legado que lhes dará.
Porque fazer uma sopa dá trabalho... porque fazer uma salada dá trabalho... e não, não é, e suspeito que não será nunca mais caro fazer uma alimentação saudável do que uma plastificada!!
Se fizermos crescer as nossas crianças num ambiente "alimentarmente" saudável, elas crescerão a inconscientemente saber quanto mais têm que comer para compensar os gastos desportivos, e quanto menos têm que comer para compensar a inatividade televisiva.
Se nunca os privarmos, na proporção saudável, dos prazeres adocicados da sociedade moderna mas, simultaneamente, sem hipótese de renúncia, lhes apresentarmos todos os recursos "salgados" ao nosso dispor para uma alimentação equilibrada, crescerão capazes de autonomamente fazer as escolhas certas, quando voarem solo, longe dos seus progenitores.
Quanto a nós, tal como um drogadito, temos que fazer uma desintoxicação, física mas especialmente mental, começando pela ausência espiritual de preocupação com gramas, calorias e hambúrgueres, pela negação do reflexo salivar pavloviano ao som das palavras McDonald's e Coca-Cola e passando, isso sim, pela reaprendizagem do inolvidável cheiro a legumes acabados de cozer, mas também pela abdicação do seguimento de regras dos gurus do momento, que lhe dirão que deve comer setenta e duas vezes ao dia e beber dezoito litros e meio de água a cada seis horas (como se a sede não fosse regulador suficiente da ingestão de líquidos no organismo) e maldizer o pão e maldizer as batatas e maldizer a carne vermelha e maldizer a carne azul e branca e maldizer os peixes gordos e maldizer os peixes magros e, naqueles cuja loucura atinge o expoente máximo... maldizer esta, aquela ou todas as frutas?!!!
Deixe, de uma vez por todas, os batidos, os comprimidos, os chás (que não os sociais), deixe a dieta da lua, das cores, da luz, do tipo sanguíneo, das três horas, dos 17 dias, de Atkins, Dukan, de Los Angeles, de South Beach, de Cacilhas ou da Buraca e dedique-se, tão só... a (re)aprender a VIVER!
A alimentação é um ato que quase deveria ser considerado reflexo, de tão irrelevantemente importante que é para a nossa sobrevivência. Irrelevante porque pobre da sociedade que ao invés da elevação espiritual se entretiver com imbecilidades deste tipo. Importante porque nos impede de prematuramente extinguir o projeto de consciência que almejamos desenvolver ao longo da nossa curta existência.
Há alguns anos defendi a saída humana da cadeia alimentar convencional, eliminando na totalidade este problema de alimentação da fornalha orgânica, através da ingestão (ou libertação contínua, no caso de sistemas previamente inseridos no corpo) de substitutos sintetizados que permitissem à humanidade ganhar tempo para o que é realmente importante no seu padrão evolutivo.
Estamos muitíssimo longe desta realidade, é certo, o que não nos pode impedir de perseguir o mesmo objetivo, com os meios atualmente ao nosso dispor.
O que nos impediu durante tantos séculos de evoluir foi, nada mais nada menos, o facto de quase toda a nossa capacidade de processamento intelectual se destinar à preservação da espécie através da busca contínua de alimentos. Ultrapassámos há muito este obstáculo, mas curiosamente criámos outro, de si derivado, que consome quase tanta capacidade de processamento, que mais não é que o combate às consequências nefastas da excessiva ingestão de alimentos face à necessidade diária deste conjunto de seres vivos que deixaram de conhecer predadores dos quais fugir!
O facto de comermos em excesso pode remontar aos primórdios civilizacionais, em que este racional era utilizado pela razão da incerteza quanto à origem, tempo e localização da refeição seguinte.
Esta é a razão romanceada.
A razão que choca e dói é que nos tornámos viciados em comida, como um qualquer toxicodependente que anseia sempre por mais um pouco da sua substância psicotrópica favorita. E, como eles, sofremos do síndroma de abstinência, não porque o corpo da energia necessite, mas porque o cérebro assim o ordena (culpemos as enzimas ou culpemos Freud, é pouco relevante).
A propriedade com que disserto acerca deste assunto não se associa a qualquer inscrição na ordem dos médicos, enfermeiros, nutricionistas ou dietistas. É, apenas e só, a experiência de vida de quem, aos quarenta, se mantém biometricamente igual aos dezoito, sem nunca se ter preocupado com uma só restrição ou dieta na sua vida.
E o segredo?
A palavra preocupação ou, neste caso, a falta dela!
Todos sabemos, intrínseca ou extrinsecamente, aquilo que nos faz bem e o que nos faz definitivamente mal.
A nossa Nação teve a felicidade (e a sabedoria) de construir um modelo de alimentação que faz inveja a todos os restantes povos do mundo. A famosa dieta mediterrânica mais não é que a tradição familiar centenária de comer sempre sopa, comer sempre salada e comer sempre fruta... com carne, peixe e outros derivados animais a compor o acolhedor quadro que nos fará sempre lembrar a casa dos nossos ancestrais.
Então porque não o aplicamos?
Porque nos tornámos preguiçosos.
Porque transportámos essa preguiça para a falência na educação dos nossos filhos. Porque é mais confortável ceder a uma birra, choro ou gritaria do que manter a firmeza de quem está convicto de que este será o melhor legado que lhes dará.
Porque fazer uma sopa dá trabalho... porque fazer uma salada dá trabalho... e não, não é, e suspeito que não será nunca mais caro fazer uma alimentação saudável do que uma plastificada!!
Se fizermos crescer as nossas crianças num ambiente "alimentarmente" saudável, elas crescerão a inconscientemente saber quanto mais têm que comer para compensar os gastos desportivos, e quanto menos têm que comer para compensar a inatividade televisiva.
Se nunca os privarmos, na proporção saudável, dos prazeres adocicados da sociedade moderna mas, simultaneamente, sem hipótese de renúncia, lhes apresentarmos todos os recursos "salgados" ao nosso dispor para uma alimentação equilibrada, crescerão capazes de autonomamente fazer as escolhas certas, quando voarem solo, longe dos seus progenitores.
Quanto a nós, tal como um drogadito, temos que fazer uma desintoxicação, física mas especialmente mental, começando pela ausência espiritual de preocupação com gramas, calorias e hambúrgueres, pela negação do reflexo salivar pavloviano ao som das palavras McDonald's e Coca-Cola e passando, isso sim, pela reaprendizagem do inolvidável cheiro a legumes acabados de cozer, mas também pela abdicação do seguimento de regras dos gurus do momento, que lhe dirão que deve comer setenta e duas vezes ao dia e beber dezoito litros e meio de água a cada seis horas (como se a sede não fosse regulador suficiente da ingestão de líquidos no organismo) e maldizer o pão e maldizer as batatas e maldizer a carne vermelha e maldizer a carne azul e branca e maldizer os peixes gordos e maldizer os peixes magros e, naqueles cuja loucura atinge o expoente máximo... maldizer esta, aquela ou todas as frutas?!!!
Deixe, de uma vez por todas, os batidos, os comprimidos, os chás (que não os sociais), deixe a dieta da lua, das cores, da luz, do tipo sanguíneo, das três horas, dos 17 dias, de Atkins, Dukan, de Los Angeles, de South Beach, de Cacilhas ou da Buraca e dedique-se, tão só... a (re)aprender a VIVER!