sexta-feira, setembro 21, 2012

Terra do Gelo

Parta!
Deixe que o vento o leve para um lugar melhor, longe da rotina, da insatisfação, dos problemas sobrevalorizados e dos sentimentos oprimidos.
Olhe para o mundo, veja como nele se insere, como todos se lhe encaixam e  como são especiais todos os momentos de todas as rotações de todas as translações deste planeta.
Tenha a sorte de ver o mundo melhor do que os outros.
A perspetiva (quão sortudo) de quem olha de cima sem estar por cima, devolva-a quando está em baixo sem nunca chegar a estar por baixo.
A perspetiva de um mundo global, de ações e reações, de bons momentos que se transformam em melhores momentos, que se transformam nos melhores momentos.
Voltar renascido, voltar como quem nunca partiu e na verdade sempre esteve sem estar, voltar pronto para mudar e tornar especial o que vida insiste em querer tornar rotineiro.
Voltar para querer ser o primeiro, o único e verdadeiro ser que pode mudar uma vida que pode mudar muitas vidas que pode mudar o mundo.
Deixar de lado a angústia de um pai que não descansa sem certeza de uma vida melhor, para uma certeza de brilhantismo no olhar de três melhores que tudo mais, na convicção de leveza e naturalidade no sucesso, no rumo melhor no meio da tormenta, em escolhas que tornarão melhor o melhor dos mundos possíveis.
...
Deixe de tomar as coisas por certas, mantenha-se desperto, sente-se de manhã na cama onde o seu corpo de noite se deitou e lembre-A de que o mundo só gira porque ela existe, e que não existe espaço nem tempo nem longe nem perto nem noite nem manhã se não puderem olhar para dentro um do outro e sentir a mesma chama que os aqueceu há vinte e dois anos atrás... nem nunca ter precisado ter contado o tempo... porque ele nunca chegou a passar por nós... Guida.
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É uma existência de ouro, aquela que tira prazer numa conversa desconversada com idosas testemunhas de uma religião que as preenche, no empurrar de uma bicicleta até um cão preto para que um cão preto nos empurre a nós poço de felicidade dentro, em percentagens de perímetro terrestre cumprido sem dever de cumprir, em abraços, em beijos, em saltos e quedas, em carinhos e canções e músicas de embalar... em amor eterno e no olhar mais terno...
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Vi um mundo que ainda não é mundo.
Vi pessoas a caminho de se tornarem pessoas.
Vi a vida com olhos de quem vive, mas que (perdoem-me) por vezes se esquece que ainda vive.
Vi oceanos de fogo que fogo já não são, líquidos em pedra que líquidos gostariam de tornar.
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Torne-se lava por dentro e por fora, sem nunca chegar a embrutecer.
Parta as pedras em que se transformou, mergulhe no mais gelado dos mares, suba o mais alto dos penhascos, coma tudo aquilo que nunca ousou nem sonhou, sinta o perigo do veneno sabendo que não morrerá, sinta-se dono de si, dono do mundo, dono da sua vontade... e deixe que a sua vontade o torne melhor, o limpe das pedras, o purifique nas águas, o proteja no alto e o faça arriscar sem nunca perder, ousar sem nunca temer e vencer sem sequer duvidar.
Troque as manhãs pelas tardes, o céu pelo chão, um carro por um avião, troque o sol pela lua, não deixe nunca de chamar amor àquela que é só sua, troque o nome dos seus filhos Alexandre por João João por Pedro  Pedro por Alexandre, jamais deixe de os chamar aos três para que iguais sejam no seu e no coração pequenino que é só deles... troque tudo sem nada trocar...
... porque no final... ter-lhes-á, apenas e só, mostrado o significado da palavra... amar.

Afonso Gaiolas

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