quarta-feira, julho 11, 2012

Quimera cosmológica

Universo, multiverso ou a mãe de todas as perguntas...
Friedrich Nietzsche apadrinhou uma ideia de permanente retorno, em que todos os eventos estariam condenados à eterna repetição, na linha dos defensores de uma sequência contínua de "big bangs" e "big crunches".
Eu, apesar de não desdenhar de teoria alguma (enquanto o facto não estiver cientificamente comprovado), sempre me senti compelido a defender uma ideia de finitamente pequeno. Concebo o infinito, mas algo me diz que este conceito não caberá na definição das qualidades e virtudes do nosso universo.
Passeio-me por estas areias movediças, as mais movediças de quantas haverá para sulcar, assumindo o risco da ridicularização científica, apenas porque estou convicto que o contributo para o conhecimento e descoberta da verdade vai muito além da mera experimentação, carecendo também, especialmente neste capítulo, de um esforço inumano de análise dos factos conhecidos e consequente interpretação, a partir de dentro da caixa, por fora da caixa... ou mesmo, se tal se mostrar necessário, destruindo-a integralmente! 
Devo confessar-vos que todo este artigo é despoletado por um sonho.
(Começamos mal... dizem-me... pois Bandarra só houve um!)
Sem querer assustar ninguém, passo a explicar.
O crédito que dou aos sonhos vem de há muito tempo atrás. De um tempo em que pensar em ser crescido acompanhava uma magia de projetos só comparável aos que imaginam a vida após a vitória no euromilhões.
Nesse tempo, de quando em vez, acordava deslumbrado com o que os Oneiros me tinham presenteado.
Não só adquiria consciência de estar a sonhar como, nesses sonhos, que via decorrer como aglomerados de cenas de um guião cinematográfico, se sucediam diálogos que transcendiam a minha melhor capacidade literária do momento. Consciente do sucedido, era contudo invariavelmente incapaz de os reproduzir, uma vez acordado. 
Estes acontecimentos levaram-me, ao longo dos anos, a acreditar que parte da revolução elétrica noturna que povoa a nossa massa cinzenta durante o período REM (Rapid Eye Movement) poderia ser utilizada como capacidade válida e útil de processamento de informação intelectual, para além do uso que o nosso sub-consciente pudesse fazer (que ignoramos) destes atos pseudo-reflexivos.
Como se de uma sedimentação se tratasse, em que muitas das peças do imenso e disperso puzzle do conhecimento se conectassem para nos definir um pouco mais como Homens.
Só assim se poderá explicar o decréscimo desta atividade à medida que envelhecemos, facto que comprovo na primeira pessoa, mas que tento a todo o custo contrariar.
Uma destas noites tive então um vislumbre daquilo que poderia sustentar a minha teoria do Universo, que me tem ocupado décadas a fio sem resultado aparente.
O Homem tem uma paixão pela individualidade e esforça-se por tentar demonstar isso mesmo todos os dias da sua existência, quer seja na exclusividade como espécie na tentativa de ascenção divina, quer na mesquinhez da escolha de um chapéu diferenciado para usar em Ascot.
Contudo, o Universo encarrega-se de o negar, com toda a aparente grandeza que o caracteriza. Tudo, desde a estrela mais maciça à poeira interestelar mais ínfima, está programado para a replicação, num esforço de continuidade, sobrevivência ou aumento de escala, fazendo parecer ridículo o ideal de "espécie escolhida", pelo simples facto de garantidamente existirem milhares de milhões de espécies semelhantes, acredite-se ou não na equação de Frank Drake.
A minha perceção é de que, pedindo emprestada uma analogia da fisíca nuclear para que todos possamos visualizar a ideia, o Universo se comportará como um eletrão de um qualquer átomo. Encaixado numa "nuvem eletrónica" de outros universos, finito apenas porque delimitado pelo espaço equivalente à prisão da sua "equivalente força nuclear fraca", movimentar-se-á em conjugação com os seus replicados pares, de um modo incompreensivelmente coordenado, fazendo parte de uma orquestração global brutalmente superior, num esforço de crescimento harmonioso... e com um propósito que talvez, neste estágio de desenvolvimento imberbe em que nos encontramos, nos faça bem não termos ainda vislumbrado, sob pena de termos de lidar com uma depressão irreversível de insignificância coletiva.
Se em termos comportamentais, a minha visão é física, em termos de crescimento e replicação recorro a uma alegoria biológica. 
Tal como para um observador no interior de um organismo será incompreensível a explicação do crescimento e replicação celular (especialmente se forem ignoradas as vias de comunicação - transferência de matéria - entre o organismo e o meio exterior), também para nós, por fazermos parte integrante  do sistema gerado, se torna difícil conceber a contínua geração de unidades de matéria e movimento que ocorre após a grande explosão do universo como agora o conhecemos. Acreditando estar no interior do acontecimento, consigo perceber a contínua expansão e até o aumento da sua velocidade, se estivermos a ser "alimentados" por trocas com um exterior que desconhecemos (virá a matéria escura ajudar a fechar este ciclo?).
Quanto à explosão, parece-me da mais elementar racionalidade compará-la aos esforços do nosso Grande Colisionador de Hadrões (LHC) em simular as condições iniciais do nosso universo e, tal como neste, chegar à conclusão de que a matéria, tal como hoje a conhecemos, ter resultado da colisão de dois ou mais universos a elevadíssima velocidade, casuisticamente ou não, gerando uma nova vida, ou parte dela, ou parte da parte dela.
Esta é a minha única maneira de conceber a existência da matéria, por oposição ao início do tempo de Planck e à singularidade da infinitude.
Bem sei que nada resolvo... que a nenhuma pergunta respondo... mas as convicções do reino da ignorância são isto mesmo, perceções de um estado material que, se à fé colassem o conceito... nos oefereceria mais três ou quatro religiões, garantia de entretenimento dos humanos nesta incerta viagem cósmica por uns maravilhosos seis dias... que ao sétimo Ele descansou. 


"O universo não tem notícia da nossa existência"

José Saramago

Um abraço,

Afonso Gaiolas

sexta-feira, julho 06, 2012

Academia de Líderes

Ando há demasiado tempo a adiar a construção deste edifício, que fervilha etereamente  no limbo que separa o meu consciente do seu sub e que, sempre que vem a lume mais um atropelo à dignidade que os cargos de liderança deveriam acarretar, parece querer auto elevar-se para um estatuto físico que não imagino se alguma vez poderá conseguir vir a ter.
Como colar cartazes, acrescentar as letras "dr" ao apelido, doar muito papel-moeda a rosas, laranjas, punhos, foices, martelos, setas e estrelas, e ser filho, sobrinho ou enteado do gene apropriado, não faz parte do meu ideal padronizado de seleção das individualidades que entendo serem as mais capazes de conduzir o meu país a mais 900 anos de gloriosa existência, sinto-me moralmente compelido a tentar verbalizar esta ideia que, estou convicto, resolveria a esmagadora maioria dos males de que a nossa sociedade de "elites" padece.
Comecemos pelo princípio (há qualquer coisa de mágico na aparente simplicidade deste pleonasmo)!
Comecemos pela expurgação dos radicalismos que impedem que, a todos os sistemas políticos ou ideológicos que não o vigente em cada era, se extraiam o que de melhor cada um pode oferecer, inibindo simultaneamente os defeitos que inerentemente todos acarretam.
Partindo desta ideia basilar, construirei aquilo que denominarei a Academia de Líderes, estrutura de ensino público de excelência e tutorada pelos melhores quadros académicos de que o nosso país dispusesse.
A sua missão seria a de formar os líderes de Portugal, a nível local, regional ou nacional, preenchendo os diversos cargos políticos existentes no nosso país.
A sua visão seria a de se tornar a referência académica, científica e moral de toda a sociedade, imune ao contágio da corrupção e do "tendencialismo" decisório da atual esfera partidária.
Os seus valores seriam os da isenção, altruísmo, intelectualidade, dedicação e... acima de tudo... amor a Portugal e aos Portugueses.
Vamos então responder à primeira e mais importante questão - quem?
Defendo convictamente que a melhor formação intelectual é adquirida no sistema monárquico, onde a cada príncipe é  fornecido o máximo de informação e conhecimento possível, que lhe permita no futuro guiar o seu país na direção que lhe pareça ser a mais correta. Contudo, todos concordaremos (à exceção de quem tiver sangue real) que a escolha não pode ser uma pseudo-lotaria genética, em que o jogo está viciado no mesmo conjunto de moléculas do ácido desoxirribonucleico. Para além da óbvia estupidez de tal anseio, a História encarregou-se de provar correta a frase de Luís de Camões que nos recorda que "um fraco Rei faz fraca a forte gente..."!
Ainda assim, é essencial e indispensável que a formação dos futuro líderes seja o mais aproximada deste ideal de especialização que só a monarquia neste momento consegue. E a concretização deste desiderato só será conseguida com recurso a uma academia orientada para o cumprimento deste ideal.
Poderiam candidatar-se a esta escola todos os jovens de Portugal que terminassem com sucesso o 12º ano de escolaridade num estabelecimento público de ensino, donde seria selecionado o grupo final de indivíduos que ingressariam na academia.
Os critérios de seleção teriam por base a avaliação académica (contínua, desde a escolaridade básica), as necessárias provas de aferição específicas nacionais e o traço psicológico de cada um (considerando a sua personalidade, sociabilidade e inteligência emocional), fatores que hierarquizassem o valor relativo de cada um e permitissem escolher os melhores entre os melhores.
Aceites na academia, tacitamente aceitariam a maior das honras mas também o maior dos sacrifícios. Se, por um lado, se poderiam orgulhar de no futuro serem parte do restrito grupo dos que são considerados artífices da História, por outro teriam que abdicar de muitos sentimentos individuais, em prol permanente do bem-estar coletivo.
A duração da formação neste estabelecimento de ensino seriam aproximadamente doze anos, tantos quantos os anos de escolaridade que os precederam, de modo a acomodar um conjunto vasto de conhecimentos na área da História, Economia e Finanças, Relações Internacionais, Psicologia, Linguística (nacional e internacional), Política, Segurança e Defesa, entre outras consideradas ajustadas à educação pretendida a um governante.
A partir dos trinta anos, portanto, teríamos pronta uma verdadeira elite de portugueses orientados para a governação e condução do país rumo a um futuro próspero.
Há um ano e meio atrás, escrevi um artigo sobre o interesse desinteressado e a virtude necessária a este conjunto de portugueses que agora identifico. Refiro nesse artigo a descentralização das decisões por referendo popular. Isto não exclui nem invalida a existência de um líder com uma visão aceite pela maioria, que conduza a nau mais pela esquerda, ou mais pela direita, evitando as vagas traiçoeiras e as garras do velho, mas sempre velhaco adamastor.
Finalizada a fase de instrução, doze anos de meditação, aprendizagem e construção de uma visão para o país, necessariamente diferente do seu colega de carteira ou de tertúlias, seria chegada a hora do escrutínio popular, e aí sim, das derivações políticas que a própria nação escolheria, em função do projeto individual de cada um dos candidatos.
Todos os restantes não escolhidos para os cargos maiores de governação candidatar-se-iam, sucessivamente, a todos os restantes cargos políticos remanescentes e que fazem falta à nação portuguesa, ocupando assim as também nobres funções de embaixador, cônsul, presidente de câmara municipal, vereador de um qualquer município, entre muitas outras de maior ou menor relevância mediática.
De modo semelhante, todos os lugares na assembleia seriam ocupados por estes ilustres cidadãos, aos quais seria eliminado o conceito de oposição, criando as condições para que pudesse emergir um espírito de entreajuda, popularmente designado como "uns com os outros", ao invés de "uns contra os outros", pois o objetivo último deixaria de ser a ocupação efémera do pedestal, mas o avanço social, cultural e económico de toda a comunidade.
A substituição nos cargos ocupados far-se-ia por vontade dos próprios ou por incumprimento dos objetivos traçados para a governação (fossem eles o crescimento económico, o índice de desenvolvimento humano, ou quaisquer outros), de acordo com as metas temporais maioritariamente acordadas.
Assim, não tenho dúvidas que voltaríamos a honrar a nossa derivação do vocábulo politiká, que tão desviada tem andado, nas últimas décadas, do ideal concebido sob as colunas de uma acrópole que passadas tantas tempestades económicas ainda permanece de pé.


"A política é talvez a única profissão para a qual se pensa não ser necessária qualquer preparação."

                                                                                                                      Robert-Louis Stevenson

Um abraço,

Afonso Gaiolas