sexta-feira, julho 06, 2012

Academia de Líderes

Ando há demasiado tempo a adiar a construção deste edifício, que fervilha etereamente  no limbo que separa o meu consciente do seu sub e que, sempre que vem a lume mais um atropelo à dignidade que os cargos de liderança deveriam acarretar, parece querer auto elevar-se para um estatuto físico que não imagino se alguma vez poderá conseguir vir a ter.
Como colar cartazes, acrescentar as letras "dr" ao apelido, doar muito papel-moeda a rosas, laranjas, punhos, foices, martelos, setas e estrelas, e ser filho, sobrinho ou enteado do gene apropriado, não faz parte do meu ideal padronizado de seleção das individualidades que entendo serem as mais capazes de conduzir o meu país a mais 900 anos de gloriosa existência, sinto-me moralmente compelido a tentar verbalizar esta ideia que, estou convicto, resolveria a esmagadora maioria dos males de que a nossa sociedade de "elites" padece.
Comecemos pelo princípio (há qualquer coisa de mágico na aparente simplicidade deste pleonasmo)!
Comecemos pela expurgação dos radicalismos que impedem que, a todos os sistemas políticos ou ideológicos que não o vigente em cada era, se extraiam o que de melhor cada um pode oferecer, inibindo simultaneamente os defeitos que inerentemente todos acarretam.
Partindo desta ideia basilar, construirei aquilo que denominarei a Academia de Líderes, estrutura de ensino público de excelência e tutorada pelos melhores quadros académicos de que o nosso país dispusesse.
A sua missão seria a de formar os líderes de Portugal, a nível local, regional ou nacional, preenchendo os diversos cargos políticos existentes no nosso país.
A sua visão seria a de se tornar a referência académica, científica e moral de toda a sociedade, imune ao contágio da corrupção e do "tendencialismo" decisório da atual esfera partidária.
Os seus valores seriam os da isenção, altruísmo, intelectualidade, dedicação e... acima de tudo... amor a Portugal e aos Portugueses.
Vamos então responder à primeira e mais importante questão - quem?
Defendo convictamente que a melhor formação intelectual é adquirida no sistema monárquico, onde a cada príncipe é  fornecido o máximo de informação e conhecimento possível, que lhe permita no futuro guiar o seu país na direção que lhe pareça ser a mais correta. Contudo, todos concordaremos (à exceção de quem tiver sangue real) que a escolha não pode ser uma pseudo-lotaria genética, em que o jogo está viciado no mesmo conjunto de moléculas do ácido desoxirribonucleico. Para além da óbvia estupidez de tal anseio, a História encarregou-se de provar correta a frase de Luís de Camões que nos recorda que "um fraco Rei faz fraca a forte gente..."!
Ainda assim, é essencial e indispensável que a formação dos futuro líderes seja o mais aproximada deste ideal de especialização que só a monarquia neste momento consegue. E a concretização deste desiderato só será conseguida com recurso a uma academia orientada para o cumprimento deste ideal.
Poderiam candidatar-se a esta escola todos os jovens de Portugal que terminassem com sucesso o 12º ano de escolaridade num estabelecimento público de ensino, donde seria selecionado o grupo final de indivíduos que ingressariam na academia.
Os critérios de seleção teriam por base a avaliação académica (contínua, desde a escolaridade básica), as necessárias provas de aferição específicas nacionais e o traço psicológico de cada um (considerando a sua personalidade, sociabilidade e inteligência emocional), fatores que hierarquizassem o valor relativo de cada um e permitissem escolher os melhores entre os melhores.
Aceites na academia, tacitamente aceitariam a maior das honras mas também o maior dos sacrifícios. Se, por um lado, se poderiam orgulhar de no futuro serem parte do restrito grupo dos que são considerados artífices da História, por outro teriam que abdicar de muitos sentimentos individuais, em prol permanente do bem-estar coletivo.
A duração da formação neste estabelecimento de ensino seriam aproximadamente doze anos, tantos quantos os anos de escolaridade que os precederam, de modo a acomodar um conjunto vasto de conhecimentos na área da História, Economia e Finanças, Relações Internacionais, Psicologia, Linguística (nacional e internacional), Política, Segurança e Defesa, entre outras consideradas ajustadas à educação pretendida a um governante.
A partir dos trinta anos, portanto, teríamos pronta uma verdadeira elite de portugueses orientados para a governação e condução do país rumo a um futuro próspero.
Há um ano e meio atrás, escrevi um artigo sobre o interesse desinteressado e a virtude necessária a este conjunto de portugueses que agora identifico. Refiro nesse artigo a descentralização das decisões por referendo popular. Isto não exclui nem invalida a existência de um líder com uma visão aceite pela maioria, que conduza a nau mais pela esquerda, ou mais pela direita, evitando as vagas traiçoeiras e as garras do velho, mas sempre velhaco adamastor.
Finalizada a fase de instrução, doze anos de meditação, aprendizagem e construção de uma visão para o país, necessariamente diferente do seu colega de carteira ou de tertúlias, seria chegada a hora do escrutínio popular, e aí sim, das derivações políticas que a própria nação escolheria, em função do projeto individual de cada um dos candidatos.
Todos os restantes não escolhidos para os cargos maiores de governação candidatar-se-iam, sucessivamente, a todos os restantes cargos políticos remanescentes e que fazem falta à nação portuguesa, ocupando assim as também nobres funções de embaixador, cônsul, presidente de câmara municipal, vereador de um qualquer município, entre muitas outras de maior ou menor relevância mediática.
De modo semelhante, todos os lugares na assembleia seriam ocupados por estes ilustres cidadãos, aos quais seria eliminado o conceito de oposição, criando as condições para que pudesse emergir um espírito de entreajuda, popularmente designado como "uns com os outros", ao invés de "uns contra os outros", pois o objetivo último deixaria de ser a ocupação efémera do pedestal, mas o avanço social, cultural e económico de toda a comunidade.
A substituição nos cargos ocupados far-se-ia por vontade dos próprios ou por incumprimento dos objetivos traçados para a governação (fossem eles o crescimento económico, o índice de desenvolvimento humano, ou quaisquer outros), de acordo com as metas temporais maioritariamente acordadas.
Assim, não tenho dúvidas que voltaríamos a honrar a nossa derivação do vocábulo politiká, que tão desviada tem andado, nas últimas décadas, do ideal concebido sob as colunas de uma acrópole que passadas tantas tempestades económicas ainda permanece de pé.


"A política é talvez a única profissão para a qual se pensa não ser necessária qualquer preparação."

                                                                                                                      Robert-Louis Stevenson

Um abraço,

Afonso Gaiolas

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