Universo, multiverso ou a mãe de todas as perguntas...
Friedrich Nietzsche apadrinhou uma ideia de permanente retorno, em que todos os eventos estariam condenados à eterna repetição, na linha dos defensores de uma sequência contínua de "big bangs" e "big crunches".
Eu, apesar de não desdenhar de teoria alguma (enquanto o facto não estiver cientificamente comprovado), sempre me senti compelido a defender uma ideia de finitamente pequeno. Concebo o infinito, mas algo me diz que este conceito não caberá na definição das qualidades e virtudes do nosso universo.
Passeio-me por estas areias movediças, as mais movediças de quantas haverá para sulcar, assumindo o risco da ridicularização científica, apenas porque estou convicto que o contributo para o conhecimento e descoberta da verdade vai muito além da mera experimentação, carecendo também, especialmente neste capítulo, de um esforço inumano de análise dos factos conhecidos e consequente interpretação, a partir de dentro da caixa, por fora da caixa... ou mesmo, se tal se mostrar necessário, destruindo-a integralmente!
Devo confessar-vos que todo este artigo é despoletado por um sonho.
(Começamos mal... dizem-me... pois Bandarra só houve um!)
Sem querer assustar ninguém, passo a explicar.
O crédito que dou aos sonhos vem de há muito tempo atrás. De um tempo em que pensar em ser crescido acompanhava uma magia de projetos só comparável aos que imaginam a vida após a vitória no euromilhões.
Nesse tempo, de quando em vez, acordava deslumbrado com o que os Oneiros me tinham presenteado.
Não só adquiria consciência de estar a sonhar como, nesses sonhos, que via decorrer como aglomerados de cenas de um guião cinematográfico, se sucediam diálogos que transcendiam a minha melhor capacidade literária do momento. Consciente do sucedido, era contudo invariavelmente incapaz de os reproduzir, uma vez acordado.
Estes acontecimentos levaram-me, ao longo dos anos, a acreditar que parte da revolução elétrica noturna que povoa a nossa massa cinzenta durante o período REM (Rapid Eye Movement) poderia ser utilizada como capacidade válida e útil de processamento de informação intelectual, para além do uso que o nosso sub-consciente pudesse fazer (que ignoramos) destes atos pseudo-reflexivos.
Como se de uma sedimentação se tratasse, em que muitas das peças do imenso e disperso puzzle do conhecimento se conectassem para nos definir um pouco mais como Homens.
Só assim se poderá explicar o decréscimo desta atividade à medida que envelhecemos, facto que comprovo na primeira pessoa, mas que tento a todo o custo contrariar.
Uma destas noites tive então um vislumbre daquilo que poderia sustentar a minha teoria do Universo, que me tem ocupado décadas a fio sem resultado aparente.
O Homem tem uma paixão pela individualidade e esforça-se por tentar demonstar isso mesmo todos os dias da sua existência, quer seja na exclusividade como espécie na tentativa de ascenção divina, quer na mesquinhez da escolha de um chapéu diferenciado para usar em Ascot.
Contudo, o Universo encarrega-se de o negar, com toda a aparente grandeza que o caracteriza. Tudo, desde a estrela mais maciça à poeira interestelar mais ínfima, está programado para a replicação, num esforço de continuidade, sobrevivência ou aumento de escala, fazendo parecer ridículo o ideal de "espécie escolhida", pelo simples facto de garantidamente existirem milhares de milhões de espécies semelhantes, acredite-se ou não na equação de Frank Drake.
A minha perceção é de que, pedindo emprestada uma analogia da fisíca nuclear para que todos possamos visualizar a ideia, o Universo se comportará como um eletrão de um qualquer átomo. Encaixado numa "nuvem eletrónica" de outros universos, finito apenas porque delimitado pelo espaço equivalente à prisão da sua "equivalente força nuclear fraca", movimentar-se-á em conjugação com os seus replicados pares, de um modo incompreensivelmente coordenado, fazendo parte de uma orquestração global brutalmente superior, num esforço de crescimento harmonioso... e com um propósito que talvez, neste estágio de desenvolvimento imberbe em que nos encontramos, nos faça bem não termos ainda vislumbrado, sob pena de termos de lidar com uma depressão irreversível de insignificância coletiva.
Se em termos comportamentais, a minha visão é física, em termos de crescimento e replicação recorro a uma alegoria biológica.
Tal como para um observador no interior de um organismo será incompreensível a explicação do crescimento e replicação celular (especialmente se forem ignoradas as vias de comunicação - transferência de matéria - entre o organismo e o meio exterior), também para nós, por fazermos parte integrante do sistema gerado, se torna difícil conceber a contínua geração de unidades de matéria e movimento que ocorre após a grande explosão do universo como agora o conhecemos. Acreditando estar no interior do acontecimento, consigo perceber a contínua expansão e até o aumento da sua velocidade, se estivermos a ser "alimentados" por trocas com um exterior que desconhecemos (virá a matéria escura ajudar a fechar este ciclo?).
Quanto à explosão, parece-me da mais elementar racionalidade compará-la aos esforços do nosso Grande Colisionador de Hadrões (LHC) em simular as condições iniciais do nosso universo e, tal como neste, chegar à conclusão de que a matéria, tal como hoje a conhecemos, ter resultado da colisão de dois ou mais universos a elevadíssima velocidade, casuisticamente ou não, gerando uma nova vida, ou parte dela, ou parte da parte dela.
Esta é a minha única maneira de conceber a existência da matéria, por oposição ao início do tempo de Planck e à singularidade da infinitude.
Bem sei que nada resolvo... que a nenhuma pergunta respondo... mas as convicções do reino da ignorância são isto mesmo, perceções de um estado material que, se à fé colassem o conceito... nos oefereceria mais três ou quatro religiões, garantia de entretenimento dos humanos nesta incerta viagem cósmica por uns maravilhosos seis dias... que ao sétimo Ele descansou.
"O universo não tem notícia da nossa existência"
José Saramago
Um abraço,
Afonso Gaiolas
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