De médico e de louco... todos temos um pouco!
Curioso este adágio, que subliminarmente protege a sacra figura "doutoral", pela estupidificação de toda a massa sobrante que ouse desejar conhecer o que eternamente lhe deve ser vedado.
E se nas entrelinhas do provérbio residisse a fórmula para eliminar as horas, dias, meses de espera para uma consulta médica no nosso sistema nacional de saúde?
Se fosse esta a maneira de evitar algumas centenas de mortes, invalidezes ou ferimentos por negligência desconhecedora?
E se, tal como se estabelece como essencial o domínio da linguagem para a sã convivência em sociedade, identificássemos uma série de competências que, julgadas essenciais à população portuguesa, fossem transmitidas em ações de formação, etariamente focalizadas e espaçadas temporalmente, de modo a tornar a sociedade mais evoluída e capaz como um todo.
Tenho sido acusado (especialmente entre alguns dos mais ilustres clientes da Cornélia) de projetar um ideal demasiado pradonizado e padronizador para tudo o que nos rodeia.
Permitam-me discordar redondamente do espírito, embora não do conteúdo parcial da afirmação.
O meu objetivo é que se simplifique a consecução das necessidades higiénicas pessoais, sim, padronizando-as o mais possível, de modo a que as necessidades motivacionais possam adquirir um grau ilimitado de criatividade e individualismo.
Herzberg foi inteligente na catalogação, mas não previu uma sociedade profundamente castrada pela luta diária que garanta a primeira das necessidades...e onde não existe espaço para o surgimento da segunda.
Mas afinal, de que trata o chavão "individual common core skills"?
Guardei o original anglo-saxónico, por ser esta a origem militar do conceito.
Identifica uma série de aptidões que cada combatente deve possuir, comuns a toda uma força, que transmitirão a esta um valor acrescentado global muito superior à soma de cada uma das suas partes constituintes.
Feito o necessário ajustamento temático, este conceito serve na perfeição para tornar muito mais eficaz todo o nosso paradigma social.
Comecemos pelo início do artigo.
Vou-vos contar uma pequena história...
Era uma vez um senhor que se sentou, num veículo em movimento, numa zona de muito elevada concentração de monóxido de carbono. Esse senhor (inserido num grupo profissionalmente heterógeneo de pessoas), em consequência deste irrefletido ato, sofreu um envenenamento por monóxido de carbono, tendo sido miraculosamente salvo por um "senhor doutor" que felizmente estava presente.
E quais os atos médicos realizados neste tão heróico procedimento?
Não espero que seja necessário o domínio, nem tão pouco cientificamente se percebam os mecanismos de combinação da hemoglobina com o oxigénio, para que alguém se sinta habilitado a executar uma série de ações básicas que resolvam este cenário típico de hipoxia histotóxica.
Mesmo que o seu curso seja o das velhas oportunidades, qualquer ser humano médio deve ser capaz de remover a causa do distúrbio ou, em alternativa, promover o afastamento do indivíduo dessa mesma causa. Em seguida, assegurar ao sinistrado a melhor afluência possível, quer de oxigénio, quer sanguínea, ao nosso mais valioso orgão.
Traduzido por miúdos... levar a vítima para um local seguro, deitá-la, libertá-la de roupas que limitem os movimentos cardíacos ou respiratórios e elevar-lhe os membros inferiores. A chamada de ajuda especializada presume-se já ter ocorrido por quaisquer outras pessoas intervenientes neste cenário.
Seria necessário um estetoscópio ao pescoço...?
Talvez como amuleto para dar sorte.
E, num universo de conhecimento melhorado de fisiologia humana, quantas idas desnecessárias ao hospital se evitariam?
Quantas vidas seriam poupadas, não pela existência permanente de ajuda diferenciada, mas pela utilização imediata dos conhecimentos básicos de qualquer indivíduo indiferenciado. Tanto na tomada de decisões, como no enveredamento pelo caminho correto.
Uma só tetraplegia evitada por um arrastamento inconsciente executado por um voluntário inculto... uma só queimadura facial evitada pela utilização de água para apagar uma chama resultante do aquecimento excessivo de óleo culinário... um só afogamento infantil evitado por inaptidão na execução da reanimação cardio-respiratória... uma só vida salva dos escombros de uma qualquer catástrofe natural, em resultado da tomada de ações de proteção apropriadas para cada caso... e já teria valido a pena todo o necessário esforço educacional!
Este é, sem sombra de dúvidas, uma tarefa pedagógica que deve ser entregue à Autoridade Nacional de Proteção Civil.
A minha perceção é a de que se deve criar uma divisão de instrução que regionalmente coordene as ações de formação adequadas a cada faixa etária, de modo a que as tão famigeradas bolsas de horas de formação se traduzam em algo realmente útil à população, e não mais um desperdício de tempo empresarial.
Deixo a operacionalização dos calendários de atualização e refrescamento aos entendidos na matéria, na convicção de que a periodicidade anual não seria de modo nenhum excessiva.
Estou certo que, ainda que mais padronizados, todos nos sentiríamos progressivamente mais seguros e auto-confiantes.
"Médicos", porque definitivamente mais capazes... guardando cada vez mais tempo para esvoaçar sobre um qualquer ninho de cucos que faça mover a humanidade no sentido evolucional por todos desejado!
"Saber para prever, a fim de poder."
Auguste Comte
Um abraço,
Afonso Gaiolas
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