quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Previna... para não ter que remediar

Este texto não pretende induzir qualquer pessoa a tomar decisões que contrariem a sua natureza interior, nem tão pouco ferir os postulados dos colégios de medicina das civilizações ocidentais.
Sinto-me forçado a esta introdução para evitar mal-entendidos e especulações acerca dos reais intentos deste ensaio.
As implicações das minhas convicções, estou absolutamente consciente deste facto, estendem-se para além das consequências pessoais que possam advir do meu processo de tomada de decisão. Os que de mim dependem, os que em mim confiam, acreditam que não menos que o melhor que sou e sei será incondicionalmente entregue, durante todo o seu complexo processo de crescimento, para que o melhor dos adultos suceda à melhor das crianças.
Qual deve ser o papel da medicina nas nossas vidas?
Porque razão deixámos que a perspetiva economicista da prevenção se sobrepusesse à melhor das soluções ao nosso dispor, que já agora, lhe custam apenas os minutos de introspeção que ao longo da vida utilizar, e que se resumem em escutar o nosso eu interior e tomar ações preventivas sensatas, que em nada necessitam estar coladas a um gabinete hospitalar ou de qualquer clínica de medicina privada.
Vamos começar pela dentição.
É verdade que os genes desempenham um papel importantíssimo neste assunto.
Que provavelmente os africanos terão sido mais bafejados pela sorte que os caucasianos no jogo da roleta do ADN.
Mas por que razão são as civilizações mais avançadas as mais necessitadas de cuidados médicos ortodônticos?
Porque decidimos ignorar o que a nossa razão interior nos quis transmitir.
Porque em cada crânio humano passou a estar uma potencial fonte de rendimento, em consultas preventivas e tratamentos paliativos da auto-destruição a que nos vamos lentamente dedicando ao longo da vida.
Pode uma alimentação adequada e cuidados básicos de higiene diários serem suficientes para que os dentes se mantenham incólumes ao longo da vida útil em que deles é suposto necessitarmos?
Não só podem como, estou convicto, evita o contínuo fragilizar da dentição que resulta das "limpezas", branqueamentos e outros tratamentos tão em voga nos dias que correm, de cada vez que visita o seu dentista de eleição, brasileiro ou luso, que só o sotaque os distinguirá.
São os dentistas necessários ou supérfluos?
Absolutamente essenciais, em caso de tratamentos hospitalares, curiosamente nos locais onde não existem, ou são espécie em vias de extinção, no tão mal amado Serviço Nacional de Saúde.
Onde se insere neste cenário a visita semestral (que passará a trimestral quando se aperceberem que duplicarão os lucros com esta medida) ao dentista, recomendada pela ordem dos médicos desta especialidade?
Bem, se o seu objetivo de vida é alimentar esta rede privada de cuidados de saúde que lhe mastigarão a carteira até que o seu subsistema de saúde / seguro / ou o nosso ministério da saúde colapsem, faça favor de se colocar na fila de carneiros que apenas nos dias ímpares dos meses pares dos anos bissextos pensam pela sua cabeça.
Perceberá, no final da vida, com uma prótese integral, ou dentes implantados que lhe custaram vários anos de salário, que a seu lado convivem pessoas com a dentição original completa, sem mais dispêndio de tempo nem de dinheiro para que tal sucedesse, que não o da mais elementar saúde oral caseira!
Falo com a propriedade de quem, quase ao romper da ternura dos quarenta, há mais de vinte anos não efetua qualquer tratamento ou visita de caráter paliativo a um consultório médico desta especialidade, e permanece com a sua dentição original (três dezenas e duas unidades)... intocada.
A medicina é talvez a conquista mais importante dos seres humanos nos dois últimos séculos.
(Também) graças a ela, duplicámos a nossa esperança média de vida à nascença.
Multiplicámos em muito mais que isso a nossa qualidade de vida, especialmente nos períodos de maior debilidade enquanto seres vivos.
Não posso concordar, no entanto, que seja usada a arma da insegurança que deriva da ignorância médica, para que a população seja inserida numa rede de dependência médica que, não raras vezes à custa dos efeitos secundários que geram um ciclo vicioso de necessidades continuadas, se vê espoliada da sua saúde física, financeira e mental para o resto das suas vidas.
Deixemos aos médicos a função para a qual estão destinados (Médico - o que cura um mal-estar físico ou moral), remuneremo-los na proporção da educação esforçada que dedicaram à causa médica (nunca em função do receio que possam incutir com a ameaça latente de diminuição da qualidade ou protelação dos atos médicos... que toda a gente mais tarde ou mais cedo necessitará...), mas não cedamos à voracidade capitalista dos que esqueceram ou nunca souberam o que representa o juramento que originalmente Hipócrates imortalizou.

Afonso Gaiolas

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