Sete
mil, duzentos e sete milhões de seres humanos a povoar o planeta Terra.
Quantos
destes milhares de milhões de seres foram fruto de relações homossexuais?
Nenhum.
E
o que é que isto significa?
Vou
tentar responder a esta pergunta e simultaneamente expor(-me) a minha visão
sobre todos os assuntos que lhe são conexos, mesmo correndo o risco de ser crucificado
pelos extremistas que se recusam a encadear duas frases consecutivas acerca
deste tema, sem bramir impropérios da pior espécie.
O
fator incontornável que nos liga a este planeta e a todo o cosmos, é a
biologia. É-nos subrepticiamente requerido que nos reproduzamos, está-nos
impregnado em todas as moléculas do nosso organismo. E é esta maravilha da
psicologia auto-sugestiva que nos fez vingar como espécie, pois todos sabemos
que a ausência de renovação rimará sempre, na escala cósmica de seres mortais,
com extinção!
Começando
com este racional primário, é indefensável colocar a heterossexualidade e a
homossexualidade no mesmo patamar, pelo simples facto da primeira ser ainda imprescindível
à continuação da espécie humana.
“Ainda”
é a palavra-chave que me vai salvar do rótulo prematuro da homofobia.
Há
muitos anos atrás, comecei a juntar num caderninho uma série de ideias soltas
acerca de tudo e de nada. Pedaços de divagações, mais ou menos concretizadas ou
detalhadas, que pudessem contribuir para algum avanço civilizacional futuro, ou
simples constatações de necessidades evolutivas, à data originais (ou pelo
menos assim pensava).
Uma
delas relacionava-se com a conceção e desenvolvimento do feto em ambiente
extra-uterino.
Perguntam-me
pois, qual a relação entre este e o assunto delicado sobre o qual hoje me
debruço?
É
que, a concretizar-se a minha “meia profecia” (a fertilização in vitro era já
uma realidade desde 1978), quebra-se definitivamente a barreira psicológica da
dependência de sexos para a continuação da espécie humana. Estamos naturalmente
muito distantes do dia em que a ciência nos oferecerá a possibilidade de
mesclar o material genético de dois indivíduos do mesmo sexo, associando-o a
material orgânico indiferenciado, artificialmente sintetizado, de modo a
eliminar a necessidade da existência de diversidade sexual. Ainda assim, no
despontar desse dia, mantendo a convicção que a diversidade é a mãe da
evolução, manterei a minha defesa convicta na discriminação positiva à
heterossexualidade.
Biologicamente
falando, portanto, à luz do conhecimento humano atual, não me restam dúvidas
da necessidade social de proteger a heterossexualidade como meio preferencial na
evolução da espécie. Um pouco como o exemplo que nos é oferecido pelo incesto,
socialmente reprimido e reprovado ao longo dos séculos, após a constatação de
que a homogeneidade provocaria invariavelmente aberrações biológicas.
Mas,
ao contrário do exemplo que acabo de dar, no caso da homossexualidade deve ser
a palavra tolerância, ao invés de repressão, a combinar com este conceito. O
que não poderá significar nunca igualdade.
Ultrapassada
a questão da geração, entro agora na questão mais atual da sociedade portuguesa,
que tão perto de referendo se encontra e que tão mal discutida tem sido (lá
voltam os extremistas inflamados de ambos os lados a ocupar o tempo de antena e
o protagonismo que devia ser pertença das vozes serenas).
A
educação.
Adoção,
co-adoção e outros conceitos encontrar-se-ão permanentemente subjugados à
palavra educação!
E
também aqui, como em tudo na sociedade, há que hierarquizar as opções numa
escala de valores.
A
sociedade deve reger-se segundo o padrão de evolução que a maioria deseja e que
simultaneamente garanta a evolução moral e social que todos anseiam.
Um
pai alcoólico e uma mãe toxicodependente educam tendencialmente pior que duas
mulheres sãs que se amam?
De
tão óbvia, a resposta torna desnecessária a sua verbalização!
Um
pai violento e uma mãe violentada educam tendencialmente pior que dois homens
que mantêm a harmonia conjugal no lar que partilham?
Repetição
da jogada!
Contudo,
não é legítimo que a questão se coloque nestes moldes.
A
base comparativa tem que ser a mesma para que o raciocínio seja válido.
Em
igualdade de circunstâncias, uma figura paterna e uma figura materna serão sempre,
na minha opinião, a fórmula tendencialmente perfeita na educação de uma criança
(faltarão necessariamente os irmãos!!). O balanceamento certo entre o
sentimento de proteção, a fragilidade aparente, a coragem, a sensibilidade, a
agressividade, a beleza, a rudeza, a calma, a força, a graciosidade… tudo se
conjugará para que estes referenciais, mostrados pelo exemplo da diversidade
sexual, tornem o projeto de Homem/Mulher um ser humano completo. E sim, pode
ser que nalguns momentos da vida seja a graciosidade masculina, a rudeza
feminina ou qualquer outra característica menos padronizada a prevalecer. No
final, o resultado harmonioso será sempre melhor que o melhor que a monotonia
de género poderá proporcionar, por mais esforço, dedicação ou amor que seja
transmitido (e pode sem dúvida ser imenso!!).
Como
operacionalizar então este conceito de inclusão, que aceita mas não iguala os
conceitos?
Simplesmente
pela discriminação positiva que referenciei há pouco.
Resumindo…
O
casal homossexual deve poder unir-se e viver uma vida em comum, em igualdade de
circunstâncias com um casal heterossexual?
Sem
dúvida. Até porque o argumento da continuação da espécie para a diferenciação
só seria válido, neste caso, se os casais fossem forçados pela sociedade a ter
filhos, o que conferiria uma vantagem indisfarçável à heterossexualidade.
A
este propósito devo referir que me sinto tentado a verbalmente açoitar a elite
pensante do nosso país, que argumenta ser absolutamente necessário que as
famílias tenham mais filhos… apenas porque o sistema de segurança social
colapsará se não existirem mais indivíduos no ativo.
Parece-vos
fazer algum sentido?
Alguns
sentir-se-ão tentados a responder afirmativamente… que alguém lhes terá que
pagar a reforma!!
Vamos
então colocar a questão de outro modo.
Como
se sentiria se tentasse explicar ao seu filho que foi concebido segundo um
sentimento extraordinariamente altruísta, cujo único propósito seria o de pagar
pensões aos velhos de então (que, já agora, por um acaso do destino delapidaram
toda a riqueza do país enquanto novos, dançando ao jeito de cigarras e
esperando que agora cumpra o papel de formiga, mas numa nova derivação, irónica,
da fábula, em que a cigarra se mantém seu hóspede no formigueiro e ainda lhe dá
ordens acerca de como proceder para que o dinheiro para a pensão não falhe!).
Regresso
à questão fraturante deste texto.
Concordei
que se devam dar apoios iguais às uniões de todos os tipos, conquanto o amor
seja o denominador comum e o respeito mútuo prevaleça sobre o egocentrismo.
Contudo,
não concordo, e já expliquei porquê, que nos privilégios da educação (e apenas
de adoção de crianças se tratará, uma vez que apenas um tipo de união pode
conceber naturalmente), se deem direitos iguais a todas as famílias.
Antes
de abordar a opção da adoção, um pequeno parêntesis para dar a anuência tácita
a barrigas de aluguer (ou espermatozoides de aluguer), que pelo menos ofereçam
50% do material genético do casal na descendência. Legítimo e justo. E
infelizmente, a única opção tecnologicamente acessível aos casais homossexuais!
Na
adoção, o caso muda de figura.
A
sociedade, acreditando no dogma de vantagem relativa que há pouco descrevi,
deverá escalonar os casais disponíveis para adoção de modo sequencial, dando
primazia aos casais heterossexuais, seguido dos casais homossexuais e por
último, pelos indivíduos (de qualquer dos sexos) que queiram iniciar uma
família monoparental.
Uma
vez atribuídas as crianças, os apoios à parentalidade devem naturalmente ser
rigorosamente iguais, sem discriminação subsequente, de que espécie for, na
proporção do número de filhos que a família desejar ter, punindo fiscalmente apenas
as famílias que tenham decidido egoisticamente não fazer parte desta viagem
Portuguesa pelos séculos, ou seja, abdicado de criar descendência.
Só assim poderemos, definitiva e coerentemente
conviver com a diferença, mantendo a lucidez de sabermos exatamente para onde
queremos conduzir a sociedade, solidificando-a nos valores de tolerância
historicamente perenes da Nação Lusitana.
Afonso Gaiolas
3 comentários:
De acordo!
Falta muita lucidez e clarividência a tudo isto.
Julgo que a "politização" deste "debate" acaba por liquidar qualquer bom senso e, portanto, apenas torna intratável um problema já de si demasiado complexo para ser tratado da forma leviana e ad hoc com que tem sido tratado.
Sexualidade, saúde reprodutiva e reprodução devem merecer o mesmo estatuto?
Meu caro, gostava de ler algo escrito sobre eutanásia e suicídio, pode ser?
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