segunda-feira, janeiro 20, 2014

Sexualidades


Sete mil, duzentos e sete milhões de seres humanos a povoar o planeta Terra.
Quantos destes milhares de milhões de seres foram fruto de relações homossexuais?
Nenhum.
E o que é que isto significa?
Vou tentar responder a esta pergunta e simultaneamente expor(-me) a minha visão sobre todos os assuntos que lhe são conexos, mesmo correndo o risco de ser crucificado pelos extremistas que se recusam a encadear duas frases consecutivas acerca deste tema, sem bramir impropérios da pior espécie.
O fator incontornável que nos liga a este planeta e a todo o cosmos, é a biologia. É-nos subrepticiamente requerido que nos reproduzamos, está-nos impregnado em todas as moléculas do nosso organismo. E é esta maravilha da psicologia auto-sugestiva que nos fez vingar como espécie, pois todos sabemos que a ausência de renovação rimará sempre, na escala cósmica de seres mortais, com extinção!
Começando com este racional primário, é indefensável colocar a heterossexualidade e a homossexualidade no mesmo patamar, pelo simples facto da primeira ser ainda imprescindível à continuação da espécie humana.
“Ainda” é a palavra-chave que me vai salvar do rótulo prematuro da homofobia.
Há muitos anos atrás, comecei a juntar num caderninho uma série de ideias soltas acerca de tudo e de nada. Pedaços de divagações, mais ou menos concretizadas ou detalhadas, que pudessem contribuir para algum avanço civilizacional futuro, ou simples constatações de necessidades evolutivas, à data originais (ou pelo menos assim pensava).
Uma delas relacionava-se com a conceção e desenvolvimento do feto em ambiente extra-uterino.
Perguntam-me pois, qual a relação entre este e o assunto delicado sobre o qual hoje me debruço?
É que, a concretizar-se a minha “meia profecia” (a fertilização in vitro era já uma realidade desde 1978), quebra-se definitivamente a barreira psicológica da dependência de sexos para a continuação da espécie humana. Estamos naturalmente muito distantes do dia em que a ciência nos oferecerá a possibilidade de mesclar o material genético de dois indivíduos do mesmo sexo, associando-o a material orgânico indiferenciado, artificialmente sintetizado, de modo a eliminar a necessidade da existência de diversidade sexual. Ainda assim, no despontar desse dia, mantendo a convicção que a diversidade é a mãe da evolução, manterei a minha defesa convicta na discriminação positiva à heterossexualidade.
Biologicamente falando, portanto, à luz do conhecimento humano atual, não me restam dúvidas da necessidade social de proteger a heterossexualidade como meio preferencial na evolução da espécie. Um pouco como o exemplo que nos é oferecido pelo incesto, socialmente reprimido e reprovado ao longo dos séculos, após a constatação de que a homogeneidade provocaria invariavelmente aberrações biológicas.
Mas, ao contrário do exemplo que acabo de dar, no caso da homossexualidade deve ser a palavra tolerância, ao invés de repressão, a combinar com este conceito. O que não poderá significar nunca igualdade.
Ultrapassada a questão da geração, entro agora na questão mais atual da sociedade portuguesa, que tão perto de referendo se encontra e que tão mal discutida tem sido (lá voltam os extremistas inflamados de ambos os lados a ocupar o tempo de antena e o protagonismo que devia ser pertença das vozes serenas).
A educação.
Adoção, co-adoção e outros conceitos encontrar-se-ão permanentemente subjugados à palavra educação!
E também aqui, como em tudo na sociedade, há que hierarquizar as opções numa escala de valores.
A sociedade deve reger-se segundo o padrão de evolução que a maioria deseja e que simultaneamente garanta a evolução moral e social que todos anseiam.
Um pai alcoólico e uma mãe toxicodependente educam tendencialmente pior que duas mulheres sãs que se amam?
De tão óbvia, a resposta torna desnecessária a sua verbalização!
Um pai violento e uma mãe violentada educam tendencialmente pior que dois homens que mantêm a harmonia conjugal no lar que partilham?
Repetição da jogada!
Contudo, não é legítimo que a questão se coloque nestes moldes.
A base comparativa tem que ser a mesma para que o raciocínio seja válido.
Em igualdade de circunstâncias, uma figura paterna e uma figura materna serão sempre, na minha opinião, a fórmula tendencialmente perfeita na educação de uma criança (faltarão necessariamente os irmãos!!). O balanceamento certo entre o sentimento de proteção, a fragilidade aparente, a coragem, a sensibilidade, a agressividade, a beleza, a rudeza, a calma, a força, a graciosidade… tudo se conjugará para que estes referenciais, mostrados pelo exemplo da diversidade sexual, tornem o projeto de Homem/Mulher um ser humano completo. E sim, pode ser que nalguns momentos da vida seja a graciosidade masculina, a rudeza feminina ou qualquer outra característica menos padronizada a prevalecer. No final, o resultado harmonioso será sempre melhor que o melhor que a monotonia de género poderá proporcionar, por mais esforço, dedicação ou amor que seja transmitido (e pode sem dúvida ser imenso!!).
Como operacionalizar então este conceito de inclusão, que aceita mas não iguala os conceitos?
Simplesmente pela discriminação positiva que referenciei há pouco.
Resumindo…
O casal homossexual deve poder unir-se e viver uma vida em comum, em igualdade de circunstâncias com um casal heterossexual?
Sem dúvida. Até porque o argumento da continuação da espécie para a diferenciação só seria válido, neste caso, se os casais fossem forçados pela sociedade a ter filhos, o que conferiria uma vantagem indisfarçável à heterossexualidade.
A este propósito devo referir que me sinto tentado a verbalmente açoitar a elite pensante do nosso país, que argumenta ser absolutamente necessário que as famílias tenham mais filhos… apenas porque o sistema de segurança social colapsará se não existirem mais indivíduos no ativo.
Parece-vos fazer algum sentido?
Alguns sentir-se-ão tentados a responder afirmativamente… que alguém lhes terá que pagar a reforma!!
Vamos então colocar a questão de outro modo.
Como se sentiria se tentasse explicar ao seu filho que foi concebido segundo um sentimento extraordinariamente altruísta, cujo único propósito seria o de pagar pensões aos velhos de então (que, já agora, por um acaso do destino delapidaram toda a riqueza do país enquanto novos, dançando ao jeito de cigarras e esperando que agora cumpra o papel de formiga, mas numa nova derivação, irónica, da fábula, em que a cigarra se mantém seu hóspede no formigueiro e ainda lhe dá ordens acerca de como proceder para que o dinheiro para a pensão não falhe!).
Regresso à questão fraturante deste texto.
Concordei que se devam dar apoios iguais às uniões de todos os tipos, conquanto o amor seja o denominador comum e o respeito mútuo prevaleça sobre o egocentrismo.
Contudo, não concordo, e já expliquei porquê, que nos privilégios da educação (e apenas de adoção de crianças se tratará, uma vez que apenas um tipo de união pode conceber naturalmente), se deem direitos iguais a todas as famílias.
Antes de abordar a opção da adoção, um pequeno parêntesis para dar a anuência tácita a barrigas de aluguer (ou espermatozoides de aluguer), que pelo menos ofereçam 50% do material genético do casal na descendência. Legítimo e justo. E infelizmente, a única opção tecnologicamente acessível aos casais homossexuais!
Na adoção, o caso muda de figura.
A sociedade, acreditando no dogma de vantagem relativa que há pouco descrevi, deverá escalonar os casais disponíveis para adoção de modo sequencial, dando primazia aos casais heterossexuais, seguido dos casais homossexuais e por último, pelos indivíduos (de qualquer dos sexos) que queiram iniciar uma família monoparental.
Uma vez atribuídas as crianças, os apoios à parentalidade devem naturalmente ser rigorosamente iguais, sem discriminação subsequente, de que espécie for, na proporção do número de filhos que a família desejar ter, punindo fiscalmente apenas as famílias que tenham decidido egoisticamente não fazer parte desta viagem Portuguesa pelos séculos, ou seja, abdicado de criar descendência.
Só assim poderemos, definitiva e coerentemente conviver com a diferença, mantendo a lucidez de sabermos exatamente para onde queremos conduzir a sociedade, solidificando-a nos valores de tolerância historicamente perenes da Nação Lusitana.
 
Afonso Gaiolas

3 comentários:

António Luís disse...

De acordo!
Falta muita lucidez e clarividência a tudo isto.
Julgo que a "politização" deste "debate" acaba por liquidar qualquer bom senso e, portanto, apenas torna intratável um problema já de si demasiado complexo para ser tratado da forma leviana e ad hoc com que tem sido tratado.

sombras disse...

Sexualidade, saúde reprodutiva e reprodução devem merecer o mesmo estatuto?

sombras disse...

Meu caro, gostava de ler algo escrito sobre eutanásia e suicídio, pode ser?